No outro dia aprendi uma palavra nova. Claviculário. Estávamos ainda à mesa, já jantados ou pela fruta. O nosso era aquele falar de quem não se via há meses: de início graças, trivialidades, vida de casa; depois, (pre)ocupações. A dada altura guinámos ao muito que o mundo parece estar a mudar, à fragilidade de um sistema, de qualquer sistema. E aí ele disse que não. Nem tudo é frágil. Que havia formas antigas de garantir a proteção do que é precioso. Eu fui claviculário, disse. Depositário de uma das chaves de um cofre. Explicou que lá tudo estava seguro porque uma chave não bastava para o abrir, só a par isso era possível; para mais, as cifras eram guardadas em local desconhecido. Nunca contei isto a ninguém, rematou.
Demorei dias a perceber o que esta palavra nova tinha que ver connosco. Só a entendi, só se tornou minha depois de nos rever com o vidro de permeio no parque de estacionamento e o vidro nem importar muito. Na amizade, no viver entre pessoas que verdadeiramente se entendem, as cifras estão guardadas num local desconhecido. E o que é mais valioso só se abre quando duas chaves rodam a um tempo.
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