tag:blogger.com,1999:blog-83529732024-03-07T09:21:38.574+00:00Quatro CaminhosCláudia [ACV]http://www.blogger.com/profile/11777691205932352641noreply@blogger.comBlogger1821125tag:blogger.com,1999:blog-8352973.post-70278157597669191372024-01-30T23:12:00.002+00:002024-01-30T23:12:23.091+00:00Mafra, Terreiro D.João V Chega-me uma claridade baça, ainda vaga, à saída principal; desconfio, mas aceito o pressentimento de um tempo melhor. Abre-se nessa fracção tempo um espaço igualmente curto, e sei que é precioso. Nele cabe o tanto quanto acordar em dia de aniversário infantil. Há um entusiasmo, uma emoção volátil, incontida. Reconheço-a: é a renovada promessa da Primavera que o final do Cláudia [ACV]http://www.blogger.com/profile/11777691205932352641noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8352973.post-84062872259116082722023-06-08T18:03:00.008+01:002023-06-08T18:04:28.113+01:00Lisboa, Caminho dos FlamingosSão duas e um quarto, regressamos do almoço sem grandes pressas. Indisfarçavelmente cansadas, cansados. Abrimos a porta, entramos, pastoreamos os que estão; eles sentam-se. Pressente-se o que vem a seguir. Dizemos o que há a dizer e pronto - acabou-se. Vê-se nas suas expressões: há uma perplexidade inédita, uma ressaca esquisita. Súbita. Hesitam. Porque reagem só agora? Sabiam que estávamos Cláudia [ACV]http://www.blogger.com/profile/11777691205932352641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8352973.post-22926554983041603632022-12-07T01:04:00.005+00:002022-12-07T03:09:40.141+00:00Lisboa, Via do Oriente Dois meses. Não sabia já o que esperara, para ser sincera. Elogios? Interrogações? Não sabia mesmo. Sentira tanta curiosidade sobre o que poderia acontecer. Algo, um sinal qualquer. Comentários, uma ou outra palavra.E nada. Nada. Ao cabo de nove semanas, apagou o giz líquido de uma assentada, em hora de ninguém dar por isso. Em final de dia corou,Cláudia [ACV]http://www.blogger.com/profile/11777691205932352641noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8352973.post-6447810059762712612021-06-20T22:46:00.012+01:002021-06-20T22:50:03.791+01:00Mowgli1894 é lá longe. Madhya Pradesh também. Ainda assim - terá sido possível, mais uma vez, a sobrevida de um menino-rã? Ajudei a criar alguns miúdos e miúdas lendo o essencial no Livro da Natureza. Eu e tantos outros, vestidos da mesma maneira. Investidos de igual modo. Stephe pediu a Kipling a bênção, e ele lá deu. A nós coube brincar com eles mais de cem anos depois, com o descuidoCláudia [ACV]http://www.blogger.com/profile/11777691205932352641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8352973.post-50137892055116092972020-12-10T22:04:00.008+00:002020-12-10T22:07:03.627+00:00Lisboa, Rua da CotoviaNo outro dia aprendi uma palavra nova. Claviculário. Estávamos ainda à mesa, já jantados ou pela fruta. O nosso era aquele falar de quem não se via há meses: de início graças, trivialidades, vida de casa; depois, (pre)ocupações. A dada altura guinámos ao muito que o mundo parece estar a mudar, à fragilidade de um sistema, de qualquer sistema. E aí ele disse que não. Nem tudo é frágil. Que Cláudia [ACV]http://www.blogger.com/profile/11777691205932352641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8352973.post-67156099486545338212020-11-08T22:43:00.002+00:002020-11-08T22:43:23.037+00:00O fruto no fio de prataAgora já não chove, ainda assim os pombos mantêm-se arredados. Sem eles, podem ter vez os pardais que também ali querem ver de vida. Um dos mais pequenos faz um voo súbito, parabólico. Sobe a pique, perde a velocidade, arqueia; interrompe a descida ao pousar na mais distante das quatro figueiras. Debica um dos últimos frutos com grande rapidez, vigilante. A água acelerou a queda das Cláudia [ACV]http://www.blogger.com/profile/11777691205932352641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8352973.post-49265220393561025442020-10-25T00:49:00.028+01:002020-10-25T09:58:14.792+00:00Hibiscus sabdariffa[Jean Théodore Descourtilz (1796-1855), Histoire naturelle des plantes usuelles des colonies françaises, anglaises, espagnoles, et portugaises, 1833.]Hibisco, dente-de-leão, uma pequena casca de limão no final da fervura. O sabor é acidulado, forte. O limão ameniza o travo aos botões da flor encarnada. A cor da infusão leva-a ao pátio calçado a pedaços de mármore, à sombra de uma das três Cláudia [ACV]http://www.blogger.com/profile/11777691205932352641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8352973.post-9493108755444933202020-06-28T20:03:00.002+01:002020-06-28T20:14:41.292+01:00Massamá, Rua Dr. Francisco Ribeiro Spínola
"Se não gostasse, diria - sim."
Muito anos para chegar a isto sem mentir, sem querer reactivamente agradar, apaziguar. O correr do almoço haveria de interromper a conversa em primeira mão, sem mal. Tempo há-de haver. Haverá.
A contar havia o que acontece longe do figurativo. Provavelmente nada de novo: a percepção de que o que vejo é projectivo, trazendo à tona sobretudo quem vê. Sem Cláudia [ACV]http://www.blogger.com/profile/11777691205932352641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8352973.post-48792560409169093182020-03-13T21:26:00.000+00:002020-03-13T21:42:09.334+00:00A Espanhola
Figuro agora o meu avô Luís bem moço, moreno, peito feito e assobio seco no regresso da vila. Muito longe do dia em que se adivinhou o último dos ferreiros da aldeia.
O compasso das botas cardadas terá alentado quase de repente. Que caravana, senhores. Uma coisa é ouvir dizer. Fazer, quase nada. Tirar o chapéu e baixar os olhos com tenção. Uma impressão assim não passa. Tanto anos Cláudia [ACV]http://www.blogger.com/profile/11777691205932352641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8352973.post-88370608683795502042020-03-13T19:04:00.000+00:002020-03-13T21:26:49.648+00:00[um beijo]Mas bom, / concordarás / comigo - / nos tempos / que correm / um beijo / é / um perigo.Cláudia [ACV]http://www.blogger.com/profile/11777691205932352641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8352973.post-8731788521299976012020-02-01T19:53:00.002+00:002020-02-01T20:10:30.698+00:00Ferro Crómio Níquel
Tombado ao balcão, o café sobressaltou-a; o entendimento do porquê não lhe foi imediato. Distraiu-a, antes de mais, a emoção plástica no colega à sua direita. Um derrame visto não como um incómodo, um desperdício, antes uma emanação irisada, involuntariamente bela no seu castanho-cambiante, metálico. Um valor a fixar em foto, prontamente frustrado pela competência sanitária da simpática Cláudia [ACV]http://www.blogger.com/profile/11777691205932352641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8352973.post-47098614949259952722020-01-13T22:36:00.001+00:002020-02-01T20:09:48.452+00:00Lisboa, Jardim do Campo Pequeno
Cruzei este rossio rumo ao trabalho, ao comboio, ao cinema. Fiz a esquadria completa ou parcial desta forma franca e arbórea em estados de espírito tão diferentes. Em apuros, absorta, de afogadilho, ao rés do riso, em feliz polifonia. Acabei de me criar por aqui, entre amigos mais afins e conjurados que os da infância, talvez. Foram e ainda são avenidas novas, estas.
Cláudia [ACV]http://www.blogger.com/profile/11777691205932352641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8352973.post-78192749199101439852020-01-09T22:41:00.002+00:002020-02-01T20:04:14.019+00:00Lisboa, Passeio do Tejo
Sete anos e sete meses depois, muito mudou. Ganhei as manhãs. Vejo a bruma do rio levantar ao compasso do sol, sem sacrifício. Coisa nenhuma me dói em horário completo. As palavras não me encandeiam (ave, Cesariny) a cada locução. Ainda me falha a voz, por vezes não sustento o olhar, desaprendi a mecânica das conversas simples. Mas vá - adiante.
Cláudia [ACV]http://www.blogger.com/profile/11777691205932352641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8352973.post-23738978620212085322018-06-15T00:48:00.002+01:002020-01-09T21:55:36.375+00:00Wee Hours
Tanta mas tanta estrada. Com a chuva, sapos pequenos a atravessar. Muito escuro, carvão a fazer.
Cláudia [ACV]http://www.blogger.com/profile/11777691205932352641noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8352973.post-340873292625526032018-06-15T00:23:00.000+01:002018-06-15T00:36:00.541+01:00Couço, Rua do Comércio
Esta malta do à noite a estudar é cá um desenjoo da gente do haver. Chegada a horas, maneiras, disposição; algum receio, mas também ânsia em fazer melhor.
Idades, pela minha. Pouco menos, pouco mais. Uns paridos sem querer, outros dados, outros criados a amor.
Trabalhos incertos desde os doze, treze, logo à saída da telescola. Períodos geralmente curtos em França, Inglaterra,Cláudia [ACV]http://www.blogger.com/profile/11777691205932352641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8352973.post-18395456315462383872016-06-21T00:22:00.000+01:002016-06-21T00:27:13.814+01:00Backlog
Quase um ano não dito. Não por querer.
Por querer foi, digo, mas não de caso pensado. Muito houve. Tanto sempre há, pois. A ver.
Cláudia [ACV]http://www.blogger.com/profile/11777691205932352641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8352973.post-19004268331546567702015-07-02T00:53:00.000+01:002015-07-02T00:53:31.995+01:00A13, Km 30
Está quase escuro e o calor ainda não vergou. Levo mais de uma hora de caminho. Cruzo o Tejo, a Vala de Alpiarça, a Ribeira de Muge. Depois o Sorraia, a Ribeira de Santo Estêvão. Vou para a charneca. O luz que foge deixa entrever o bonito que isto é.
Cláudia [ACV]http://www.blogger.com/profile/11777691205932352641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8352973.post-58990941194369200922015-04-13T02:04:00.000+01:002015-04-13T02:04:37.001+01:00Wee Hours
Voltar a casa mudou. Isto não antecipei. Estava certa de que os lugares que nos dizem respeito permanecem os mesmos para nós. Talvez não. Sente-se a ausência dos que nos são queridos, primeiro; o passar do tempo nos objectos conhecidos, depois. Um ar por renovar. A renovar.
Cláudia [ACV]http://www.blogger.com/profile/11777691205932352641noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8352973.post-47260358843959178492015-02-17T01:36:00.001+00:002020-02-01T20:06:05.792+00:00Estremoz, Largo dos Combatentes da Grande Guerra
Pensei que seriam vésperas, mas não. O terço seguia a meio na igreja de São Francisco, à cabeça daquela cruz latina tão bem definida. Que olhos não escapariam imediatamente para a esquerda, para o volume dourado que adiante se descobre? Uma árvore de Jessé, pode-se ler. Não conhecia. Não recordava sequer Isaías, troncos, rebentos. E ali está, sinuosa e escamada ao reparar mais vagaroso.
Cláudia [ACV]http://www.blogger.com/profile/11777691205932352641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8352973.post-39874383166119154072015-02-04T02:14:00.000+00:002015-02-04T02:14:01.801+00:00Agora
É uma língua que não chega à automação, o presente. Um esforço contínuo, espécie de concentração particular da qual tiro modesto proveito.
Cláudia [ACV]http://www.blogger.com/profile/11777691205932352641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8352973.post-73000856758189011312014-12-25T12:52:00.000+00:002014-12-25T12:52:06.680+00:00Vila de Rei, Rua do Capitão-Mor
Conseguimos chegar quase todos aqui. Corre tanto, o tempo. As camélias abrem, sempre gostaram deste frio. À flor do dia é tão clara a distância que vai de quem está bem para quem não. Deus seja por todos.
Cláudia [ACV]http://www.blogger.com/profile/11777691205932352641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8352973.post-76033692646723181052014-12-08T01:32:00.001+00:002014-12-08T01:33:49.625+00:00Cronos, Kayros, Aeon
Ainda que entenda e viva a necessidade de comunicar, inquieta-me de modo primário a perda do valor corpóreo do silêncio, a rejeição de qualquer forma ritual.
Cláudia [ACV]http://www.blogger.com/profile/11777691205932352641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8352973.post-76435848333543843362014-12-03T02:45:00.001+00:002014-12-03T02:46:51.298+00:00Lisboa, Rua Abranches Ferrão
Pesa-me a idade, o corpo, a consciência, pesa-me o que vou conservando para dia melhor sem razão especial. A quem servirá, este impulso de guardarmos tantas coisas por perto, para não serem esquecidas?
Cláudia [ACV]http://www.blogger.com/profile/11777691205932352641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8352973.post-520556637295621482014-11-12T01:51:00.000+00:002014-11-12T01:52:13.406+00:00Wee Hours
E por vezes acordo como quem está prestes a lembrar-se de qualquer coisa fundamental. Procuro razões próximas, tarefas, consultas. Nada. Só este alarme físico - uma atopia para além da pele.
Cláudia [ACV]http://www.blogger.com/profile/11777691205932352641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8352973.post-1703222215374741252014-11-03T01:53:00.000+00:002014-11-03T01:53:55.038+00:00Sintra, Alto do Chão Frio
No estacionamento uma miúda finca pé à mãe - do banco do carro não arreda, não entrará no cemitério. O que mais sobra por aqui são vestígios desses: campas por colocar, covas abatidas, montes sem flores verdadeiras. Este costume, velho de séculos, quem o observará, daqui a trinta anos?
Cláudia [ACV]http://www.blogger.com/profile/11777691205932352641noreply@blogger.com0