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domingo, 25 de outubro de 2020

Hibiscus sabdariffa


[Jean Théodore Descourtilz (1796-1855), Histoire naturelle des plantes usuelles des colonies françaises, anglaises, espagnoles, et portugaises, 1833.]


Hibisco, dente-de-leão, uma pequena casca de limão no final da fervura. O sabor é acidulado, forte. O limão ameniza o travo aos botões da flor encarnada. A cor da infusão leva-a ao pátio calçado a pedaços de mármore, à sombra de uma das três laranjeiras que acompanhavam o muro da casa no gaveto da aldeia. Ali-além era o sítio de brincar com as colheres, as chávenas, os pratos. Lembra-os com exactidão, tão vivos no seu rosa e verde e azul que a impressão da cor oferece sabor também. A tosse cede - acaba sempre por ceder. O mal-estar demorar-se-á um pouco mais, o costume. Um outro trago já só morno conforta-a, mesmo sem lhe dar prazer. Prazer. Assim que o evoca, estranha. Mede a distância dele a si, agora. E estremece.

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