"Se não gostasse, diria - sim."
Muito anos para chegar a isto sem mentir, sem querer reactivamente agradar, apaziguar. O correr do almoço haveria de interromper a conversa em primeira mão, sem mal. Tempo há-de haver. Haverá.
A contar havia o que acontece longe do figurativo. Provavelmente nada de novo: a percepção de que o que vejo é projectivo, trazendo à tona sobretudo quem vê. Sem outra educação, a mais não há como chegar.
Tendido e lêvedo, o tempo distante dos meus foi inicialmente suportável com voltas a pé-posto na colina para a qual olhei tantas vezes enquanto crescia. Não é pura, não é bonita, já nem sequer é bucólica. Ainda assim, sobreviveu inalterada porque a alta e média tensão impediram o loteamento, a construção. Ali sobraram as últimas hortas e prados forrageiros que os antigos caseiros não deixaram de aproveitar. Só nesta emergência viral a vizinhança deu uso aos caminhos com sincera sem-cerimónia, em recurso.
O que vi no desenho foi o eco destes dias, da colina - verde e azul, acantos e cardos. Com o calor do fim de Maio esmaeceram as azedas, as papoilas, os pampilhos, até a soagem. Ficaram acantos e cardos. Os cardos, fortes e crespos, que em miúda ainda vi queimar entre restos de tijolo, vigas de ferro e pequenos rebolos de cimento, nas últimas fogueiras sanjoaneiras do bairro. Os acantos, inesperados no meio do mato entretanto crescido. Um aqui, um além. Nunca pensara em acantos, nunca os vira fora de um capitel coríntio, de uma sala de aula ou viagem entre ruínas do mundo greco-romano. Demorei a encontrar explicação. Também eles uma projecção, certamente semeados pela ventania dominante da banda da Quinta do Porto, lá onde o irmão-doutor de um dos últimos marechais nacionais mantinha o seu recatado jardim botânico.
Verde e azul, acantos e cardos.
Sem comentários:
Enviar um comentário