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sexta-feira, 6 de maio de 2005

O Maravilhoso Mundo da Roupa Interior - Soutien

Não há outra peça que diga tanto de gostos e fases da vida da mulher como o soutien – ele sustenta, por uma vida, o peso do potencial alimento de outrem e do potencial prazer da própria. Assim se explica a existência do soutien para desporto, para prótese, para aleitamento, para sexo e para o dia-a-dia sem história. Feito em algodão e elastano ou em elastano e outros poliamidas, pode ter alças ou não (quando não tem chamam-lhe cai-cai, mas a mim nunca me caiu), pode ter meio-cós (o usual, termina por cima do estômago) ou cós-alto (também designado corpete, ou corset, cintando o estômago até abaixo do umbigo), porque seios são como pessoas – cada qual tem o seu feitio. Daí decorre que as copas ou meias-copas de soutien se encontrem no mercado em formatos A, B, C e D. A numeração clássica europeia começa no pubescente 28 e termina no mastodôntico 58 (algumas marcas produzem um tamanho ainda maior, espécie de XXL; este sim, é verdadeiramente parecido com um pára-quedas). O standard a que todas aspiram é o 36, como nas calças de ganga. Vende-se hoje em muitas cores e padrões (no mass market português o padrão floral e geométrico só se vulgarizou nos últimos três anos), opacos ou transparentes, lisos, rendados, bordados, ou com aplicações. Os franceses têm fama e proveito na lingerie et corsetterie: há décadas que se mantêm originais no desenho e cuidadosos na produção; os portugueses também não são nada maus, sobretudo no cuidado com a produção, porque com excepção dos cartazes com a Isabel Figueira, padecem, como no caso das meias, de crónica falta de hype.
É muito pouco dotada ou rara a mulher (reza a lenda que é o caso desta senhora) que no seu quotidiano sente ou manifesta conforto sem o seu soutien. Tal feito requer a combinação de doses maciças de auto-estima, extroversão, boa condição física e conhecimento de artes marciais para uso em meios saturadamente testosterónicos.
Não tive nenhum episódio de vendas particularmente pitoresco envolvendo soutiens. Só a ocasional velhota desesperada por encontrar o seu modelo favorito (as empresas preconizam de há uns anos para cá a “descontinuação” de produto, favorecendo a implementação de novos desenhos para dar resposta às exigências das mais jovens e compulsivas compradoras), que à pergunta da referência numérica ou onomástica do artigo desejado responde não saber. Não haveria nada de traumatizante a assinalar, se na própria zona de atendimento não tivesse visto resolver o dilema, mais que uma vez, com a exibição súbita do exemplar que a própria trazia vestido.

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