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segunda-feira, 8 de março de 2010

As Quatro Marias

Pois eu senti nenhumas. Em mim, a leitura das três primeiras resultou em respeito pela quarta. Mais até, em consideração. Deve ser sangue que vem de trás, fervente à burguesa sobranceria. Quem apouca esta Maria não entende as mulheres do meu país, incluindo a que me teve.  Não foi  criança inviável, não perdeu ilusões cedo, não contou com a bondade de quase-estranhos, não teve de calar ao gerente que o leite estava azedo, não sorriu, infantil, à boa fortuna. A Lamas vos diria.

Nota da Redacção em 10.03.10: Os  posts fêmeos, parece tornar-se regra, são aqueles em que  mais mal entendida sou. Ou pior me explico. Ou as duas coisas. Em caso de dúvida (e em atenção às oito ou nove pessoas que aqui vêm  sem ser por acidente) aqui fica a  transcrição dos dois comentários em caixa.


Anónimo disse...
O entroncamento - alguma coisa escapará - parece-me infeliz. Ferem as personagens, o objecto e o contraste - para quê?

Rejeição literária à parte, as três iam mesmo dentro não fora o 25/4. Que se saiba, a outra e a senhora sua mãe nunca a tal se expuseram.

Não será o suficiente para a consideração (política, literária, a que bem entender chamar à colação) mas basta para o respeito. Aquele que a senhora e todos nós lhes devemos; aquele sobre o qual a senhora passa ligeira.

A indignação firme terá com certeza melhor dia aqui.


Cláudia [ACV] disse...
Fere quem!? Tresleu e muito, anónimo(a). A clareza não será o meu maior predicado, por isso repetirei, sintetizando: depreciar a vida e postura da quarta a partir da evocação das três primeiras é paradoxal, para além de mesquinho.

Conheço e admiro (ao contrário do que insinua, e bem mais do que possa calcular) as Cartas (e várias outras obras de duas das três, em particular de MVdC), como conheço os contornos do processo judicial a que alude. A indignação nasce, precisamente, em reacção a um olhar superficial, desatento, pois há um evidente nexo entre a coragem literária (e cívica) das primeiras e a coragem vivencial das segundas. As Marias que são a 'outra' e a 'senhora minha mãe' expuseram-se não à cadeia, mas à superação do muito que subjaz ao epistolário das Três. Não estão, nunca estiveram verdadeiramente nos antípodas umas das outras. Não lhe parece que aquela Maria que refiro no final, a Lamas, deixou isto claro, no modo como escreveu o que escreveu há sessenta anos? Acha mesmo que a uma mulher que no Lindoso ou na Erra fazia por ter melhores condições de vida, faltou real coragem e consciência da sua condição?

O desconhecimento da 'mulher comum', o desgosto manifestado pela sua mobilidade, o apoucamento do seu viver a partir da rejeição do seu penteado, dos seus maneirismos, do seu estar, isso sim é ligeireza.
 

2 comentários:

Anónimo disse...

O entroncamento - alguma coisa escapará - parece-me infeliz. Ferem as personagens, o objecto e o contraste - para quê?

Rejeição literária à parte, as três iam mesmo dentro não fora o 25/4. Que se saiba, a outra e a senhora sua mãe nunca a tal se expuseram.

Não será o suficiente para a consideração (política, literária, a que bem entender chamar à colação) mas basta para o respeito. Aquele que a senhora e todos nós lhes devemos; aquele sobre o qual a senhora passa ligeira.

A indignação firme terá com certeza melhor dia aqui.

Cláudia [ACV] disse...

Fere quem!? Tresleu e muito, anónimo(a). A clareza não será o meu maior predicado, por isso repetirei, sintetizando: depreciar a vida e postura da quarta a partir da evocação das três primeiras é paradoxal, para além de mesquinho.

Conheço e admiro (ao contrário do que insinua, e bem mais do que possa calcular) as Cartas (e várias outras obras de duas das três, em particular de MVdC), como conheço os contornos do processo judicial a que alude. A indignação nasce, precisamente, em reacção a um olhar superficial, desatento, pois há um evidente nexo entre a coragem literária (e cívica) das primeiras e a coragem vivencial das segundas. As Marias que são a 'outra' e a 'senhora minha mãe' expuseram-se não à cadeia, mas à superação do muito que subjaz ao epistolário das Três. Não estão, nunca estiveram verdadeiramente nos antípodas umas das outras. Não lhe parece que aquela Maria que refiro no final, a Lamas, deixou isto claro, no modo como escreveu o que escreveu há sessenta anos? Acha mesmo que a uma mulher que no Lindoso ou na Erra fazia por ter melhores condições de vida, faltou real coragem e consciência da sua condição?

O desconhecimento da 'mulher comum', o desgosto manifestado pela sua mobilidade, o apoucamento do seu viver a partir da rejeição do seu penteado, dos seus maneirismos, do seu estar, isso sim é ligeireza.