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quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Comboio, Areeiro-Amadora

A televisão importa. O homem que aqui vai fala depressa e baixo, fala como quem não fala muitas vezes e menos são as que tem quem o escute. Fala como quem ouviu o nome da sua terra depois de muito tempo. A este banto não muito alto, magro, como ao Lobo Antunes, Angola veio-lhe ao corpo com toda força. Não tem mais de trinta e cinco, trinta e seis anos. É do Uíge. A mãe está lá. Telefona-lhe, mas não a vê desde que veio. Isto foi em 1985. Queria vir, mas só conseguiu porque outros soldados mais velhos planearam a fuga e o trouxeram. Lembra por alto manobras e combates em terreno que o seu interlocutor parece reconhecer. Depois chega a qualquer coisa que não chega a dizer. Cala-se. O passageiro do lado, o colega ou amigo que nunca o interrompeu, diz-lhe que ele precisa de de lá voltar, que ele tem de lá voltar.

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