Sou da classe média. Sou-o não porque os que me antecederam tenham perdido riqueza, mas porque conseguiram sair da pobreza. Assim foi com grosso das famílias do nosso país. Até à segunda metade do século passado, ou se tinha, ou não se tinha - o meio-termo era residual. Que fazia quem não tinha? Resignava-se, ou procurava melhor vida longe. Não conseguimos imaginar o que representava partir, a não ser que ouçamos bem alguém com mais de sessenta anos: houve os que foram deserdados por castigo,houve os que morreram de saudades, houve os que inventaram noutros continentes aldeias que deixaram de existir. A terra estava profundamente enraízada na identidade de cada um,ainda se penalizavam certos crimes com desterro há umas quantas décadas. Na minha família, há pelo menos cinco gerações que se parte para longe. Para uma vida melhor. Quem fica aguarda o regresso de quem vai. Com amor, com lembrança.
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