De humanidade aprendi com quem teve um fim angustiantemente prolongado. Anos. Com dignidade, mas com tudo o que implica morrer com o espírito quebrado por uma doença que leva a cabeça. Durante esse tempo não me importei nada de ouvir histórias repetidas. A vontade de contar era tanta, que eu ficava de roda a ouvi-la dizer coisas que já sabia ou não sabia. Num dos dias piores, em que havia um ai aflito de manhã à noite, entrei no meu quarto, que então era o seu, e vi-a caída no chão. Eu devia ter dez anos, e penso que nesse exacto momento só eu e ela estávamos em casa. Não sei como consegui pô-la de volta à cama. Ela olhou para mim e reconheceu: reconheceu-me a mim, quando já não sabia quem era quem dos mais novos, e percebeu-me naquela dificuldade e atrapalhação. E eu vi isso, e isso não esqueço.
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