Foi no primeiro dia de férias do Verão de '92. Subia, contente da vida, uma calçada próxima do Palácio da Independência porque se impunha a compra de um fato de banho novo. Ia haver actividade de preparação do Acampamento Nacional do CNE, e eu não queria parecer mais foleira do que de facto era. A caminho da loja segui por um passeio tão apertadinho que só havia espaço para a minha mãe atrás de mim; uma Ford Transit das antigas passou a abrir, bateu-me com o espelho, eu caí e a roda de trás passou-me por cima das pernas. Lembro-me de estar calma, no chão, e da minha mãe estar a gritar qualquer coisa. A carrinha parou bem mais à frente, e dela saiu um casal de velhotes ciganos e um pseudo-motorista (o rapaz, soube depois, tomou o lugar do velhote cigano, que não teria a carta e tresandava a vinho...). A velhota cigana aproximou-se de mim, olhou-me a perna direita, fez menção de lhe tocar - a minha mãe rosnou e afastou-a - e disse, convicta: "Vêm? Vê-se que não está partida! Vê-se logo que não está partida! ". É claro que o fémur estava partido. À força de muita chicha e muita sorte, não se partiu mais nada, só o meu plano de férias.
Na sexta-feira passada, à hora de almoço, passeava por Marvila de Santarém e cruzei-me com uma velhota nativa. Dois cães saíram do prédio ao lado para a defender do mal que nas suas alucinadas e atrofiadas mentes eu lhe iria fazer, e enquanto eu parava para a deixar passar ela disse, convicta: "Eles não mordem, eles não mordem! Não tenha medo, que eles não mordem!". Enquanto isto, o cão de água lanzudo fincava o dente no meu rechonchudo gémeo direito.
Isto da denegação no feminino é o quê? Doença geriátrica?
1 comentário:
Miúda!Tenho mesmo, não tenho? Beijinhos e boas blogueirices!
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