Talvez a mais imperceptível cicatriz de novecentos seja esta extrema descrença na virtude. Estamos todos mais que predispostos a aceitar o mal na condição humana, fazemos livros e filmes e músicas sobre ele, de tão fascinante e misterioso que é. Já ante o seu contrário, ante uma acção absolutamente altruísta ou uma biografia exemplar, partimos do princípio que não, que ela não o pode ter sido, ou pelo menos não o pode ter sido tanto assim. Se um qualquer perfil de rectidão resiste à primeira inquirição, ou o remetemos para o domínio do anómalo, ou investimos mais a sério na procura da falha. De tanto a procurarmos acabaremos por dar com alguma, claro. E com ela nos comprazeremos, pacificados.
Sem comentários:
Enviar um comentário