a vida depois da vida / eco em museu / canção-vitória / letra empoada / melhor que nada / é memória

sábado, 28 de junho de 2008

Que fazer ao que nos contam? (13)

O varejo num dos pedaços a poente demorou bem mais que o costume, passava-se a hora de cear. Até ao segundo entroncamento os primos seguiram também, mas agora havia que galgar o Corgo Fundeiro. Não que fosse de aflições (ainda era pequena quando a mãe da mãe lhe tinha ensinado o conjuro quem vai, vai, quem está, está, para qualquer caso sem explicação), ou que o burro não soubesse o caminho, não era isso. Era o nenhum costume de ir sozinha por volta tão evitada. De que tivesse conta, mais contornado que aquele vale de pedra solta só o rocio da Venda, ou talvez a ponte do Estreito. Desses ainda havia quem repetisse qualquer coisa de má memória, mas dali não, ninguém parecia lembrar a razão de tal fama. Nisto, feito o vau, quando se preparava para deixar de tentear o carreiro à frente do animal, deu por um estranho brilho a meia encosta. Estacou.
Fez por respirar.
Pensou voltar para trás, mas levava mais de meio regresso. Decidiu avançar sem fixar aquela terrível espécie de favo prateado, suspensa no nada. Passou. Ia já uns bons passos acima quando não aguentou: agarrada ao arreio e a um responso involuntário, virou os olhos para o que afinal era reflexo do quarto crescente numa imensa teia de aranha, coberta de orvalho. Teria observado melhor, mas ouviu algo. Picou por aí a cima o quanto pôde, até estar segura de que o vento trazia mesmo o eco de quem gritava o seu nome. Encontraram-se quase no planalto. O regedor vinha à frente, a seguir os irmãos, os vizinhos, só depois mãe e pai - não fosse haver o pior.

Sem comentários: