No fim-de-semana, muito leiga e entusiasmada, discutia a questão da repetição em Bausch. Na verdade não me interessava a repetição em si mesma, queria apenas regressar ao preciso episódio que envolvia bailarino e bailarina à beira da plateia e sem foco de luz, enquanto outros se desenvolviam no centro e fundo do palco. Frente a frente, em silêncio e quase hirtos, começavam por votar-se exclusiva atenção. Depois, um deles deixava o olhar deslizar noutra direcção, ao que o outro respondia com a mão direita, reconduzindo o rosto oposto a olhar o seu. E a situação repetia-se inversamente: o que havia conseguido a atenção alheia deixava agora o olhar deambular, obtendo a mesma resposta que havia dado. O movimento alternado de cada mão, inicialmente subtil, ganharia dureza, aproximando-se de uma coreografia bofetada, que cederia e regressaria ao início uma e outra vez. Custa a acreditar que um fiapo de dança diga tanto sobre o amor, digo eu.
2 comentários:
Vi-a na Gulbenkian há muitos anos, ainda com borbulhas. Uma epifania. Só a revi no filme, ali em baixo. A oportunidade de a rever live no S. Luís, há uns anitos, perdi-a, e agora, novamente, também (só costumo aprender a partir do 3º ou 4º erro).
Sortuda, ou antes, menina não desleixada como eu.
Infelizmente também eu nunca consegui ver a própria a actuar (o bilhete que arranjei não foi para o Cafe Müller, no qual teria essa oportunidade), só a agradecer no fim, com a companhia. Pode ser que para a próxima.
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