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sexta-feira, 23 de junho de 2006

Baixas

Quando estou ansiosa ou angustiada, quando se aproxima o fim de um trabalho importante, quando padeço de outra verdade inclemente saída da boca da minha mãe, arrumo papéis. Saio à rua, compro arquivos, dossiers, separadores, micas, autocolantes, e depois pego de caras o acumulado de semanas, por vezes meses. Não fico muito melhor, mas fico um bocado. Desta vez vez não. Depois da limpeza, dou com os meus velhos cadernos de notas debaixo dos postais de aniversário dos amigos, dos horários do comboio tomarense e do expresso lisboa-sertã, aqueles que substituíram os diários de criança e nos quais durante muitos anos tentei escrever alguma coisa. Versos e contos, o costume. Ao abri-los e relê-los não me reconheço, mas também não me embaraço. Não são muito maus. Toma-me uma enorme tristeza, não só porque ali jazem várias dezenas de histórias inacabadas e ideias a que não dei corda, como sobretudo porque não posso fazer nada por elas. São baixas do tempo.

6 comentários:

mulher disse...

algumas podem ser sementes...

Cláudia [ACV] disse...

Talvez sim, Ana. Espero que sim.

um beijinho, bom fim de semana,

João Miguel Almeida disse...

Há um tempo para escrever e um tempo de pausa.
Há um tempo para publicar e um tempo para ler as tuas histórias :)

Luís Aguiar Santos disse...

Colige-as e relê-as quando te apetecer. Tens aí a memória de ti própria. Não é um exercício de narcisismo, é um exercício de reencontro e libertação. Pudera muita gente fazê-lo...

Anónimo disse...

Não escrevo há muito tempo, mas também fico triste quando releio o que escrevi. Fico nostalgica, é inevitavel. Por vezes também não me reconheço no que escrevi, nem parece a minha vida...
Parabens pelo teu blog.
:)

Cláudia [ACV] disse...

João, Luís, Anónima,
muito obrigada.