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segunda-feira, 3 de outubro de 2005

Amadora, Parque Delfim Guimarães

O dentista era simpático, ainda que demasiado parecido com o senhor do talho para me inspirar confiança. Acho que era da bata; o mesmo modelo nos dois, e no professor de físico-química, e no oculista, e no dono da drogaria. Numa de tantas visitas infantis arrancou-me dois molares, definitivos e superiores. Nas suas poupadas palavras estavam a mais. Mesmo com quatro anestesias locais, é como se nos arrancassem pedaços da caixa craniana. Nessa tarde não houve palmier coberto da Pastelaria Bond para ninguém. Olhei de relance o jardim, com a boca dormente e cheia de algodão; estranho e fora do sítio, como os meus dentes.

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