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sexta-feira, 16 de setembro de 2005

Poente

Lá se vai o apito do chefe da estação.

Terminei há bocado uma empreitada de investigação centrada nas décadas de 20 e 30 do século passado. Com ela acabaram-se os trem-lags Ribatejo-Grande Lisboa, a ciranda nas ruas de Santarém, a orelha à coca no comboio tomarense. Despedi-me das competentes (e afectuosas) funcionárias do Arquivo Distrital, da esmerada D. Zinda do café, dos pardais gorduchos da esplanada nas Portas do Sol. Foi processo longo e assoberbante, normal na vida de um trolha da construção intelectual. Lá me aproximei da história de uma fatia de país muito pobre mas rijo, de bastante ricos e de jornaleiros, bem mais dependente da diligência e da probidade dos que trabalhavam na administração pública e na política do que eu supunha. É certo, muita violência e desmando, mas também funcionários de administrações concelhias com setenta anos a darem horas extraordinárias, delegados de governo a custearem deslocações em serviço de Estado, beneméritos a financiarem discretamente obras sociais na sua terra de nascimento.

Somo hoje tão cépticos e tão desligados. Que mal pergunte: quando, quando é que o sentido de dever se tornou expressão antiquada?

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