a vida depois da vida / eco em museu / canção-vitória / letra empoada / melhor que nada / é memória

segunda-feira, 15 de agosto de 2005

Quando sós à boleia do crepúsculo


"para o Fernando Guerreiro

Não mais a literatura, os seus

fúteis e imperiosos desígnios
- julgamos dizer, insistindo
numa ourivesaria do terror
e em gestos que sabem o quanto
chegam tarde. Quando sós,
à boleia do crepúsculo, dizemos
coisas assim, mentimos com
os dentes todos que não temos.

E a mentira (a literatura)
é ainda a improvável derrota
de que não nos salvaremos
nunca. Tão igual à vida, portanto:
pouso o copo, recupero o fôlego,
fumo uma silepse. Sei que vou morrer.

E isso que - talvez - nos diz
é uma evidência que escurece
(tivemos por amigo o desconforto).

Quanto ao mais, vamos andando.
Casados ou sozinhos. Mortos."

Manuel de Freitas, [SIC], 2002.

1 comentário:

hfm disse...

Não conhecia. Gostei muito de ler.