Já fez bater muita tecla, este aforismo citado pelo Lutz, do Quase em Português [link em baixo, à direita]. Entendo que a posição de qualquer um de nós perante o dito depende exclusivamente das pessoas com quem nos cruzámos, mais que do nosso percurso individual. Eu cá andei a remoer nele uns dias e descobri que não lhe dou nenhum crédito. Porquê? Porque basta ter conhecido uma pessoa infeliz e boa para o desdizer. Eu conheço mais que uma, mas uma está acima de todas as outras. Tem mais de sessenta anos e uma vida cheia. Originária de uma família extensa e humilde, casou com um homem trabalhador, bom e boémio. Teve uma única filha. Saiu da aldeia para o subúrbio citadino e ajudou o marido a montar o seu próprio negócio, num esforço sem horas para mais nada. Casou a filha e ajudou-a a começar a sua vida. Viu nascer o primeiro neto. O marido morreu-lhe subitamente, vítima de má condição cardíaca. Pouco depois viu nascer a segunda neta. À filha foi dignosticado cancro, a que não sobreviveu o casamento nem, por fim, a própria. Seguiu-se um dos seus irmãos, cancro outra vez. Pouco tempo depois um sobrinho pôs termo à vida. E o que faz esta mulher? Resiste. Tem períodos de profunda tristeza, mas resiste. A sua saúde ressentiu-se, mas não deixa de cuidar dos dois netos, todos os dias da sua vida. Está cansada, mas o amor e a bondade não secaram. Aproveita as ocasiões possíveis para rir, para falar e para ouvir quem gosta de estar com ela. Não me venham dizer que só é bom que é feliz, porque eu sei que é mentira.
2 comentários:
Uma boa resposta ao aforismo, esta história. Refuta a frase, num certo sentido - e num sentido bastante óbvio, - mas não em todos, penso eu. Porque acredito que uma pessoa que nunca foi feliz, não terá grande capacidade de amar. (E não é isso em que se resume a bondade?)
Mas tal como algumas pessoas podem viver com pouca comida e outros necessitam de comer muito, acho que algumas pessoas, como no caso que apresentas, provavelmente armazenou tanta felicidade na sua vida (embora dura), que mesmo na desgraça de hoje ainda tem capacidade de amar que lhe chega e sobra...
Realmente, esta questão necessitava um desenvolvimento um pouco mais aprofundado!
Mas queria lembrar dois outros exemplos. Tenho o Nelson Mandela como boa pessoa. Será que foi feliz os 26 anos que esteve na prisão? Ou só passou a ser boa pessoa depois de libertado?
E Gandhi, foi feliz?
Mas ache que até foram resp. são, duma forma muito menos básica: Apesar de possivelmente terem sofrido muito, conseguiam estar sempre cheio de vida (outros diriam: de Deus). O que me lembra o conceito do viço, que a Susana apresentou...
Seja(s) bem aparecido, Lutz.
Se eu tivesse que definir felicidade, diria que ela é um momento de balanço positivo - sobretudo afectivo - do que nos aconteceu e do que fizemos da nossa vida. Assim, acho que em boa medida a felicidade independe do amor que demos e recebemos, pela simples razão de que há demasiado que não controlamos; só a nossa acção, ou reacção, perante a adversidade está nas nossa mãos. Já não é mau.
Um abraço.
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