a vida depois da vida / eco em museu / canção-vitória / letra empoada / melhor que nada / é memória

domingo, 1 de maio de 2005

Instinto

Estava quase nos quarenta, e circunstancialmente longe de casa. Ao final do décimo quinto dia ficou sem leite para a recém-nascida. Na manhã seguinte, enquanto a cunhada entretinha o mais velho, preparou o primeiro biberão. Havia algo de errado com a tetina, mas só deu por isso depois de a criança puxar dois ou três golos, muito sôfregos. A menina engasgou-se e não emitiu mais nenhum som. Ficou vermelha, e a mãe branca. Agitou-a levemente, na esperança de a ver bolsar. Nada. A menina começou a perder cor. A mãe abanou-a mais, com mais força, e tapeou uma palmada seca nas pequenas costas. Nada. A cunhada entrou em pânico e disse para correrem ao hospital. A bebé não dava sinal. Mais de um minuto. Num impulso, virou-a cabeça abaixo, amparou-lhe o pescoço e segurou-a pelos pés, sacudindo-a como a um coelho. Tossiu, chorou, vomitou. Correram ao tal hospital, a umas centenas de metros dali, para ela ser vista pelo pediatra de serviço.

- Fez o quê? Se devia não sei, mas salvou-lhe a vida. Ela está bem. Podem ir para casa.

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