Na Damaia, entre os arcos do aqueduto e a ferrovia, há agora uma rampa mais ou menos relvada que serve de sanita aos caniches e cockers dos senhores que não acreditam em sacos de plástico. Dúzias de barracas ocupavam ainda há dez anos essa fatia de declive. Uma sobressaía, ainda que fosse feita do mesmo travejado de madeira preta que as outras, ratado aos barracões de depósito e manutenção que pontuavam o percurso. É preciso ter viajado sempre a dormir para nunca ter dado pelas letras – gigantescas e brancas – pintalgadas num alçado virado à linha. Lia-se “CIGANO BILAS”, ou “CASA DO CIGANO BILAS”, ou “AQUI MORA O CIGANO BILAS”, já não sei muito bem. O que sei é que ali morava um homem de quem contavam histórias. Que era gatuno, que vendia na feira, que rogava pragas, que era pai de família, que matava à facada, que era da droga, que não era cigano nenhum. Alguém havia de o conhecer, mas nenhum de nós o conhecia, o que só inflamava o mito. Não o resolvendo, passámos a alcunhar o espertalhaço do momento em honra do ilustre desconhecido.
A barraca do senhor Bilas lá acabou por ir ao chão; o anti-herói manhoso, criado pelas nossas cabeças que adolesciam, também. Resto eu na carruagem com gaiola ao fundo, ora olhando as letras garrafais, ora olhando o pendura com poupa e cigarro, sentado no estribo.
A barraca do senhor Bilas lá acabou por ir ao chão; o anti-herói manhoso, criado pelas nossas cabeças que adolesciam, também. Resto eu na carruagem com gaiola ao fundo, ora olhando as letras garrafais, ora olhando o pendura com poupa e cigarro, sentado no estribo.
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