a vida depois da vida / eco em museu / canção-vitória / letra empoada / melhor que nada / é memória

domingo, 22 de maio de 2005

22 de Maio, 1940

Si j’étais antiquaire, je n’aurais d’yeux que pour les vieilles choses. Mais je suis historien. C’est pourquoi j’aime la vie.

Marc Bloch, Apologie pour l’histoire ou Métier d’historien, 1949 (ed. post.)

O Professor participava agora no último esforço da Campagne du Nord. Lá estava, apesar de seu crónico reumatismo e 54 anos de idade, como tinha estado aos 28 na Grande Guerra. A marcha da 19ª do Panzer Korps, de Abeville a Boulogne, de Calais a Dunkerque, não pôde ser evitada. A 2 de Julho Pétain assinaria o Armistício com o Reich. Alguns meses depois, não fosse o seu prestigiado estatuto académico, a origem judaica da família Bloch ditaria a sua exclusão do mundo universitário e exoneração da função pública. Vichy permitiu-lhe recolocação em Estrasburgo, primeiro, e em Clermont-Ferrand e Montpellier, depois. Entre o Armistício e Setembro escreveu um testemunho que não quis ver publicado antes da libertação da França. Acreditava e trabalhava para essa libertação. Enquanto sua mulher, Simmone, recuperava de doença na amenidade do Midi, trabalhou na Universidade de Montpellier e iniciou contacto com vários grupos resistentes. Teve a oportunidade de seguir para os Estados Unidos com Simmone e os filhos mais novos, mas recusou-se a deixar os rapazes maiores e sua mãe, ainda viva. Em 1943 passou à clandestinidade: tornou-se membro do Directório Regional da Resistência Unida, em Lyon, e como “Chevreuse”, “Arpajon” e “Narbonne” ajudou à constituição de grupos de libertação nos 10 departamentos que dependiam do directório a que pertencia. A 8 de Março de 1944 foi preso. Durante os três meses seguintes a Gestapo interrogou-o e torturou-o. A 16 de Junho seguiu com outros companheiros para Saint-Didier-de-Formans, onde foi fuzilado.
O manuscrito L’Étrange Defaite esteve desde 1940 ao cuidado do Dr. Canque, no subúrbios de Clermont-Ferrand e em Orcine, depositado por um companheiro do grupo clandestino Franc-Tireur, Philippe Arbos. Sobreviveu ao lixo a que foi votado por militares alemães,
ao zelo colaboracionista da polícia e ao enterramento prolongado num jardim. Após a libertação foi entregue à família do historiador, sendo publicado em 1946.

Nada angustia como saber que há quem tenha morrido pelo que temos sem se saber vitorioso.

Sem comentários: