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sexta-feira, 1 de abril de 2005

Queluz, Avenida António Enes

Muitas décadas antes de nós, os serviços postais do país viram-se na necessidade de ordenar a morada de cada família. Com o adensar da concentração humana não chegava já um apelido, um locativo, um brasão - muita gente junta tornava difícil a circulação da mala do correio. Antes das placas de madeira, azulejo ou chapa, a chuva e o rio eram referências para o funcionário ou arrematante da correspondência postal; para seu governo sabia apenas que, em todas as terras, a sequência de números respeitava o curso das águas.

Desço a avenida que desci centos e centos de vezes. Enquanto vou, esqueço-me de olhar as portas dos prédios para ver se tudo mudou, porque estou em todas as vezes que da estação corri atrasada para a reunião,para a missa, para os copos; porque estou em todas as vezes que cheguei de um acampamento em Belas, com mochila às costas, suja, cansada, com febre, contente.

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