Nos dias em que ouço um uníssono remóimóimóimóimóióimói de como o nosso país não passa de um cenário giro para as férias dos outros, provoco um sonho recorrente: estou a ler a edição semanal d'O Faccioso, no início de Setembro de 2015. O jornal, com o qual colaboro agora de quinze em quinze dias, vende modestamente no continente, ilhas e comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo. Já comemorou dez anos de vida; tem uma tiragem média de vinte e oito mil exemplares e três mil assinantes que as empresas de estudos de mercado não têm facilidade em classificar. O seu programa foi enunciado claramente no editorial do primeiro número: "(...)nada ignoramos do que de trágico e difícil vai no mundo, mas, porque representamos sem modéstia a vanguarda estética e subversiva do nosso país, votamo-nos exclusivamente a investigar, analisar e opinar acerca de coisas boas, positivas, felizes, bem sucedidas." Guardo religiosamente a cópia que me foi oferecida no fecho dessa edição inaugural.
Hoje O Faccioso é vagamente tolerado pela maioria dos portugueses, mas continua a ser alvo de intensa chacota de pequenos e grandes. Do rol habitual continuam a constar os qualificativos "alienado", "pateta", "infantil", "contra-producente" "pau-mandado do Governo", "pau-mandado da Oposição","pau-mandado da Igreja" e "pau-mandado da Maçonaria". Enquanto houver financiamento o projecto viverá. Os de nós que resistimos a ser absorvidos pelos media estabelecidos, durante a sangria de 2009-2010, continuaremos a irritar quem irritamos e a investigar, analisar e opinar despudoradamente acerca do que o que até há uma década não existia.
Depois paro de dar corda à cabeça e vou almoçar.
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