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quinta-feira, 21 de outubro de 2004

A Fila e o Figo

No nosso mundo, na coisa ocidental, a civilidade básica do forasteiro é aferida pelo nativo de forma simples: o primeiro pratica correctamente, ou não, os costumes estabelecidos. Quando somos estranhos a um lugar e estamos de boa fé optamos por uma de duas atitudes: queremos ser aceites, e tentamos casar (por vezes até à caricatura) com o novo cenário; temos pouca vocação para a conformação, e acomodamo-nos (por vezes com demasiado prazer) a ser considerados peculiares ou bizarros. No espaço que não é o nosso, encontramos outros que nos são estranhos até deixarem de o ser.
Na Inglaterra, respeitar a fila (para o que quer que seja) é prática apenas comparável à ingestão regular de chá. "Queue up, please". E lá aguardou o meu amigo a sua vez, acabado de chegar à Grã-Bretanha-Profunda. Atrás dele outro estudante se aclimatava à geordieland. Em vez de alinharem no silêncio administrativo, apresentaram-se. Um de um subúrbio japonês, outro de um subúrbio português. O Figo, em particular, e o futebol, em geral, compuseram o assunto inaugural. Dois anos e muitos assuntos depois lá estiveram eles (e eu), sentados num estádio de futebol a festejar uma quantidade absurda de golos marcados à selecção russa.

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