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quinta-feira, 8 de junho de 2023

Lisboa, Caminho dos Flamingos

São duas e um quarto, regressamos do almoço sem grandes pressas. Indisfarçavelmente cansadas, cansados. Abrimos a porta, entramos, pastoreamos os que estão; eles sentam-se. 

Pressente-se o que vem a seguir. Dizemos o que há a dizer e pronto - acabou-se. Vê-se nas suas expressões: há uma perplexidade inédita, uma ressaca esquisita. Súbita. Hesitam. Porque reagem só agora? Sabiam que estávamos a acabar. 

Este foi um ano estupidamente encarneirado, caraças. Tão picado nas pequenas coisas. Será que os miúdos têm essa noção? Pensarão em nós? Nas senhoras da cantina? Nos vigilantes do corredor? Será que comparam este ano com o anterior?  Um ano e um mês depois de caírem as máscaras, lembrar-se-ão? Passarão anos sem que saibamos, se bem calhar.

Os tímidos e os difíceis são os que vêm por um abraço (ou um high-five embaraçado). Os outros não. Estamos todos pegajosos. Uns vêm atrasados da bola, outros pedem que se ligue o ventilador. Professora, se ela sabia que se ia embora, porque é que ficou mais minha amiga? Até depois! Até para a semana. Ainda nos vemos, não é? Há as aulas de preparação das provas. Ainda nos vemos, não é? 


É, pois. 


Ainda nos vemos.

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